Pobre Pai

26-10-2017

O pai espera 9 meses para ser pai. Nós somos mães desde o positivo, desde o enjoo, do pontapé, dos exames, das mudanças no corpo, da preparação toda em casa para receber o bebé até ao parto. Só quando o bebé nasce é que o pai sente todas as emoções que lhes tentamos impingir e eles simplesmente não compreendem. É ao verem o filho pela primeira vez que percebem tudo que andamos a falar aquele tempo todo. Mas não é só uma questão pessoal. Também a sociedade separa a mãe do pai. A mãe é acarinhada de imediato, as prendas são dadas à mãe, os parabéns são primeiro para a mãe, responsabiliza-se sempre primeiro a mãe "agora é que tu vais ver o que custa, agora é que tu vais deixar de dormir...". Mas o que a mim mais me entristeceu foi no parto e pós-parto na maternidade. O meu parto foi num hospital público. Toda a minha experiência hospitalar foi positiva, desde ao auxiliar ao médico, das enfermeiras aos funcionários, todos me trataram com educação, sorriso no rosto, paciência e até algum mimo. Foram extremamente atenciosos, sempre disponíveis e conversadores. Não tenho nada a criticar em relação a mim e ao meu bebé. Mas se falarmos do pai as coisas já não funcionam assim e acho errado, injusto e de certa forma triste e negligente. Estive no hospital para ter o nosso filho durante 18 horas. Deitada confortável, medicada e sempre vigiada. O pai do bebé fica com uma cadeira plástica ao lado da cama, cadeira essa que passado 2 horas já parece pedra, imaginem 18 horas. Não lhes é servida qualquer refeição, chá, sopa, água...nada. O cansaço que eu via nele já me deixava nervosa, gostava de o ver mais confortável, mais integrado naquele processo tão intimo. Depois o Salvador nasceu, estivemos juntos com privacidade, foi óptimo e são memórias para a vida toda, mas chegou a hora de ir para o quarto e o pai é convidado a sair. Não pode passar a noite connosco. A nossa primeira noite como família é separados, eu tenho o privilegio de namorar o nosso bebé durante toda a madrugada, ele não tem esse direito. Acabou de ser pai e vai ter de voltar para a nossa cidade sozinho, para nossa casa sozinho. Que bom que deve ser dividir essa primeira noite. Que bem que ele se iria sentir por poder dormir perto do filho que acaba de nascer. Se eu tive a melhor experiência, tenho de saber ver que não acontece o mesmo com o pai. Na minha opinião era uma mudança necessária, não muito difícil de concretizar e que iria trazer resultados muito bons para um dia que pode ser de mil e uma emoções. 

Sara, 2017
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