O parto

06-07-2017

Um dos meus medos era não saber se estaria ou não em trabalho de parto. Por mais que lesse testemunhos a dizer que sem dúvida damos conta, eu achava sempre que não ia dar conta. Posso garantir que dei conta, e não sei como não iria dar conta ahah
Foi no passado dia 22 de Junho, depois de um jantar de familia, dei a minha habitual caminhada nocturna. Disse ao Ricardo que sentia um peso muito grande na barriga e não sabia se ia ter folego para chegar a casa. Cheguei. Fomos para a cama e o descanso estava-me a saber mesmo bem. A ver tv enquanto o sono não chega, ali estavamos na conversa. Perto das 00:45 oiço um estourinho, palavra de honra que se ouve, e sinto algo quente a sair mas não era a sensação de fazer xixi. Claro que percebi logo que rebentaram as águas. Em choque digo ao Ricardo "Rebentaram as águas, juro que não estou a brincar" e ele muito calmamente diz "pronto amor, vamos embora então". Eu ainda estava em choque, aquele meio minuto em que o cérebro não trabalha, o coração explode e a boca não reage ao que queres dizer ahah comecei a sentir um nervoso a crescer e a ansiedade a querer tomar conta. Tinha de reagir. Disse-lhe que não tinha contrações, por isso ainda tinhamos tempo. Fui tomar banho, antes de entrar no banho parei, respirei, acalmei-me até onde consegui e comecei a reagir. A partir daqui tudo se desenrolou muito naturalmente, com calma, não a 100% mas com bastante calma. Ainda tirei o verniz das unhas, enquanto conversavamos na cozinha, sentei-me na bola de pilates fazendo alguns exercicios que ajudariam na dilatação, arranjamos ultimos detalhes e só perto das 03:00 é que decidimos ir para o hospital. Chegamos eram perto das 03:30, fui logo atendida e a enfermeira diz-me que só ainda tenho um dedo de dilatação, está muito atrasado, mas como a bolsa rebentou tenho de ficar já internada. O Ricardo só pode estar comigo depois das 08:00, foi dificil aguentar sozinha aquelas horas, não gostei e não acho justo nem para mim nem para ele. Continuei a perder liquido em grandes quantidades, o que me surpreendeu bastante, nunca pensei que era tanto.
Chegam finalmente as 8:00, o Ricardo vem ter comigo e o obstetra de serviço começa a examinar as futuras mães. Qual não é o meu espanto, tive a sorte de calhar no dia de serviço do obstetra que me seguiu toda a gravidez! Fiquei contente e mais calma, pois confio nele e preferia uma cara conhecida, claro. Ao ser examinada ele diz ao Ricardo que está tudo muito atrasado, que ele pode ir a casa almoçar que antes disso não nasce. A ansiedade que se sente ao ouvir isto é imensa. Mas sempre que era examinada confirmavam-me que o bebé estava bem, e isso era o melhor Prozac que eu podia ter.
Perto das 10:00 comecei a ter contrações, das verdadeiras, bem fortes e ritmadas. Pedi a epidoral, mas dizem-me que os anestesistas estão ocupados com urgências, vou ter de esperar um pouco. Nem quis acreditar, eu que tanto queria um parto sem dor vou ter de esperar... Esperei por mais de uma hora, as dores são inexplicáveis, tão fortes que é impossível não fazer sons animalescos na esperança de isso ajudar e olhem que ajuda ahah Ao verem me naquele sofrimento dizem que enquanto não posso ser vista pelo anestesista me vão dar uma medicação para aliviar as dores. Não fiquei muito convencida, mas o facto é que aquilo ajuda muito, não tira a dor mas ajuda a suportar. Não sei como conseguem ter filhos em parto natural sem qualquer medicação, são super mulheres, maior respeito, mesmo! Eu agora sei que não conseguiria. Quando finalmente tenho direito à epidoral, quase perto do meio dia talvez, tudo melhorou imenso, porque as dores desaparecem por completo, finalmente o corpo consegue descansar. Sou vista novamente pelo médico que nos informa que só vai nascer entre as 16:00 e as 22:00, porque ele não está a querer descer. Tive de repor a dose de epidoral umas 3 ou 4 vezes, devido às horas todas que se passaram, mas bastava eu pedir que rapidamente era atendida. Para atrasar ainda mais, sabemos que o bebé não reage bem à ocitocina e teriam de desligar o soro.
A meio da tarde o médico vem falar connosco e diz que suspeita que ele tenha o cordão à volta do pescoço e talvez seja isso que não o deixe descer, se ele não quiser nascer teria de ir para cesariana. Isso sim foi uma lambada em cheio na minha cara. Eu não queria nada mas nada mesmo ir para cesariana, fiquei muito desanimada e preocupada. Perto das 20:00 consigo finalmente os 10 dedos de dilatação e dizem-nos que vão tentar que ele nasça com ajuda da ventosa, se não der vou logo para o bloco operatório. Já estou exausta, preocupada, assustada, farta de estar ali, nunca imaginei que o meu corpo aguenta-se tamanha brutalidade, mas aguentei e bem, calma mediante o possível e sempre cooperante. Ás 20:30 sou levada para a sala de partos, preparam-me, explicam-me tudo, todos super atenciosos e amorosos, o que naquele meu estado fez toda a diferença. Dizem-me para puxar, assim que puxo dizem-me para não parar que ele estava a nascer. Ao ouvir isso fui buscar forças sei lá onde e puxei o mais que pude nem me lembro de respirar e ele nasceu, eram 20:40, optimo, saudável, pequenino mas tão perfeito!
A minha reação ao ver o meu filho ali deitado na minha barriga é inexplicável. Não pela tremenda emoção que todas as mães dizem sentir, mas porque realmente não sei explicar, senti tanta coisa, pensei tanta coisa que acho que fiquei apática, sem reação, só a olhar para ele, sempre. Mandam chamar o Ricardo, assim que ele entra e eu o vejo a ver o filho, todas as minhas emoções encaixaram, encontraram o seu lugar e começaram a fazer sentido. As lágrimas caem-me sem as sentir de tanto que correm. Estou tão feliz, tão em paz que não tenho palavras ainda hoje para descrever. Foram 18 horas de espera, preocupação, dor, cansaço... mas aquele segundo em que tudo em mim encaixa, aquele segundo durou mais que 18 horas, pesou tão mais que todo o cansaço e dor. Não vou dizer que mal ele nasceu, esqueci. Não, ainda não esqueci o que custou, ainda não me apetece ter outro ahah e vamos ver se algum dia esqueço. Mas sem dúvida que o cliché é verdade, custa mas vale tanto a pena. Ali estava ele, 9 meses depois, o Salvador nasceu dia 22 de Junho, às 20:40, com 2,790kg e 48cm, saudável, perfeito e pronto a ser feliz. Sou mãe.


Sara, 2017
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