Não sou só a mãe do Salvador

Depois de meses com o blog parado chegou a hora de regressar.
Vamos falar de coisas importantes. Vamos falar de nós, as mães.
Desde
que o Salvador veio ao mundo o meu nome passou para segundo plano.
Agora sou a mamã. A mãe do Salvador. Por mim tudo bem, na verdade nem
me incomoda. Mas deixem-me contar-vos uma coisa, a Sara ainda existe. E
esta, hein? Sou a mesma vaidosa de antes, a mesma bem disposta com
vontade de socializar (às vezes ahah), a mesma mulher com vontade de
namorar o marido (pois pois, neste entretanto casei). Seja por opção ou
por lhe ser imposto, há mães que passam a viver para os filhos. Não
cuidam mais delas, só importa cuidar dos filhos. Não saem com as amigas,
só importa a vida social do rebento. Não tem um jantarzinho com o
namorado marido ou companheiro, tanto faz. Não tiram meia hora por dia
para ler aquele livro que ficou encostado, tomar um banho demorado, usar
uma maquilhagem, ir ao cabeleireiro, correr, ir ao ginásio, ao café, ao
bingo...o que for...tempo para elas. Se houver quem se tenha privado de
tudo e achar que estão bem e felizes, tudo bem. Não sou ninguém para
vos dizer o que vos faz falta. Nem para vos julgar. Mas falemos de mim.
Nos primeiros tempos de vida do Salva, como é óbvio a minha existência
andava à volta da existência do meu filho. A novidade, a alegria, as
visitas, as rotinas, o cansaço... Apetecia-me lá sair... Depois comecei a
sentir que o mundo seguiu em frente e eu continuei ali, na existência
de outra existência. A mãe do Salvador. Comecei a sentir falta de
existir para além disso. Comecei a pensar que a maternidade veio
tirar-me tudo o que eu gostava. Eu amo ser mãe do Salvador, melhor
decisão da minha vida, mas tenho de abdicar de tudo que fui e sou? Claro
que não. Percebi que aos poucos poderia voltar a fazer tudo como antes,
respeitando a rotina do bebé, o meu cansaço e a minha vontade. Comecei a
sair sozinha aos pouquinhos, comecei a jantar fora, a cuidar de mim.
Sou pior mãe por causa disso? Se calhar (de certeza) sou muito melhor
mãe por causa disso. Afirmo com muita certeza que o bem estar que me
traz é essencial para o bem estar do Salvador e do Ricardo. A
predisposição para tudo é totalmente diferente. A paciência, a presença,
a dedicação é muito maior. Dar-me ao luxo de existir para além da mãe
do Salvador, torna-me melhor mãe do Salvador! E é isto que queremos, não
é? Sermos a melhor mãe. Então se para isso preciso de um dia no mês com
jantar e saída com as amigas, porque não? Se psicologicamente me foi
fundamental voltar à forma física e a cuidar de mim, qual é o problema?
Não
é só de fado que isto se baseia. Comecei a trabalhar quando o Salvador
tinha 3 meses. Ficou com as avós. E sabem lá o bom que é ter uma rotina
para lá da hora da mama e da muda fralda. Do arroto e abanar para
dormir. Tudo coisas que não me importo de fazer nem me trazem
infelicidade, só precisei de voltar a existir para além disso. O
problema não foi a mudança que um filho inevitavelmente nos traz. O
problema foi a forma como isso nos pode engolir e deixarmos de ser nós
próprias.
O melhor de sair, de me divertir, de trabalhar, de
investir em mim é no fim voltar para casa e ter lá um bebé muito lindo
feliz por me ver (ou a dormir na maioria das vezes mas eu feliz por
vê-lo). Ser mãe não é só ser mãe. Faz sentido?