Vamos falar do pós-parto?

Não sei muito bem porquê mas não se fala muito do pós-parto, pois não?
Durante 9 meses temia o dia do parto, tinha picos de ansiedade e crises de nervos, quase, com o medo da dor, do sofrimento fisico e psicologico. Sim, porque o meu maior medo era demorar horas infinitas, mal eu sabia que ia durar 18 horas!!! Eram esses os meus medos, eu só dizia "desde que o tenha saudável nos meus braços pronto, acabou, já passou". E se calhar, só mesmo se calhar, não é bem assim. Não é de todo assim. O pós-parto é a parte mais dura de toda a gravidez. Falando de mim, que é o mais certo que posso falar, estive 18 horas para ter o meu filho, levei uma catrefada de pontos, estava exausta a todos os niveis possíveis, quando o tive nos braços tudo acabou, mais nada me passava pela cabeça, mais nada importava, só aquele amor incondicional e felicidade plena...até a epidoral começar a perder o efeito. Ao cansaço junta-se a dor, todo o corpo doi, mas podem prever onde a dor é soviética, certo? As contrações voltam, porque o utero começa a retrair. Os pontos massacram a nossa força de vontade quase até à desistência, que não existe porque não há para onde fugir agora. O bebé precisa mamar, mudar a fralda, não espera pela nossa melhoria. Aliás, nada espera. Estamos nós, recém mamãs, a tentar que o corpo e a mente se alinhem novamente, a tentar arranjar posição confortável e chega uma enfermeira que nos diz "mamã (sim porque ali deixamos de ter nome) vamos dar banho ao bebé?" Então lá vamos nós, a andar sabe Deus como, cada passo é uma lembrança de cada ponto que foi dado, dar banho ao nosso bebé. A sala está cheia "espere só um bocadinho mamã" Claro, não há qualquer problema, só estou meia anestesiada com as dores e o cansaço e meia em jejum depois de mais de 24 horas sem comer, com o meu bebé ao colo, espero aqui de pé pela minha vez. Depois são as visitas ao pediatra e arranjar 5 minutos para a nossa higiene pessoal. Até que temos alta e vamos para casa. O psicologico ja vai mais composto, tivemos alta, podemos levar o nosso bebé para casa e temos lá tudo que preparamos para o receber. Mas o fisico continua fraco, em sofrimento e chamar nomes a tudo que nos faz levantar e andar. Em casa a saga continua, se bem que agora o pai já pode ajudar um pouco. No meu caso tive de me desenrascar sozinha logo no dia seguinte, porque ele voltou ao trabalho. Então ali estava eu, sozinha com o meu filho, com dores, cansada, sem dormir porque ele sempre acordou para mamar, cuidar da casa (o minimo, que aqui tive muito a ajuda da minha mãe), cuidar minimamente de mim, mudar fraldas...vocês sabem lá (e as que sabem) o que é mudar fraldas no pós parto, com pontos a gritar, corpo cansado, mente anestesiada. A mente anestesiada sinceramente foi o pior. Eu não sei descrever o meu estado emocional. A nossa mente sofre um impacto tal que ficamos muito diferentes. Eu chorava imenso, o desespero que se sente é fácil que nos arrasta para o abismo se não tivermos apoio e carinho suficiente à nossa volta. A depressão pós-parto é real e muito fácil de cair. Muito fácil. As emoções ficam demasiado intensas, o cansaço também não ajuda, tive momentos que me senti a perder o controle. Felizmente fui muito apoiada, tive muito paciência à minha volta, sempre super acarinhada e a coisa lá se foi fazendo.
Ser mãe é viver o pós parto e mesmo assim sorrir para o bebé. Sentir as dores e mesmo assim dar colo o tempo todo que ele precisar. É ter a pressão de todos à nossa volta e mesmo assim conseguir ignorar e seguir o instinto, que acreditem em mim, nunca falha. O pós-parto é a fase mais dificil que já vivi, foi a prova mais potente que dei a mim mesma que depois disto, sou capaz de qualquer coisa. Perdi vários medos depois de ultrapassar aquele periodo. Ainda dura cerca de duas semanas. No meu caso, claro. Cada mulher terá a sua experiência, a sua dor, a sua forma de lidar. Esta foi e é a minha. O parto é aquele momento, por mais longo que seja, é só aquele momento. O pós-parto é muito mais desgastante e exigente.