E quem espera, desespera?
Quando decidimos tentar ter um bebé tive receio da espera. Novidade,
né? Tive medo de ouvir que não poderia engravidar, de ter testes
negativos meses e meses a fio, de não conseguir atingir este sonho.
Tive a benção de engravidar logo, esperei um mês apenas, por isso não sei o que isso é.
Não
sei o que é sentir a natureza contra mim, sentir a inutilidade da
vontade, que só isso não basta. Mas conheço de perto uma situação assim,
e agora sei, ou julgo que sei, a sensibilidade que tem de se ter ao
lidar com esse assunto. Agora aprendi que ao ver um casal não devo dizer
"Então, estão à espera de quê para ter um bebé?" ou "Então?? Agora só
faltas tu". Se antes fazia isto, se tinha este tipo de abordagem, agora
sei a dor que posso causar, a verdade que pode estar por de trás do "Ah
ainda não, um dia quem sabe". Sei o que pode doer numa mulher ouvir isso
de quem já tem um filho no colo, que já por si lhe deve custar ver e
ainda vou eu comentar por cima... Ao conviver com este caso por perto
fiquei consciente que realmente não sabemos do que falamos nem com quem
falamos, por isso, para quê falar?
Perguntar também não me parece
boa opçõa, pode ofender. Se o assunto surgir e virmos que a pessoa se
sente confortável com o assunto então aí sim podemos ir conforme a
conversa flui. Foi assim que comecei a lidar quando me deparo com essas
situações e sinceramente sinto maior conforto nas pessoas, talvez por
não sentirem a pressão social que existe. Sim, a sociedade impõe a
pressão no casal para que se forme uma familia, e nem sempre é possível
ou nem sempre é desejado. É se menos feliz por isso? Não sei, acredito
que com as armas necessárias todo o equilibrio se atinge, quem sou eu
para julgar o que cada um faz da própria vida? Eu fui muito abençoada
com esta gravidez, sempre quis isto para a minha vida, sempre sonhei ser
mãe e graças a Deus estou prestes a ter o meu filho aqui comigo, mas
não seria menos mulher se não o fizesse. Sinto que há esse estigma,
mulher que é mulher é mãe. Não concordo. Há muitas formas de se ser
mulher. Há muitas formas de se ser uma familia. Para quem tenha o mesmo
sonho que eu mas ainda não conseguiu, eu acredito que tudo tem a altura
certa, esta foi a minha, felizmente calhou na mesma altura que a minha
vontade, mas no seu caso, que ainda espera o positivo, talvez ainda não
seja a hora. Quando o positivo chegar, a gravidez avançar você vai
perceber e vai dar razão de que realmente esta é a sua hora e do seu
bebé. Não sei porque existem mães que abandonam e maltratam os seus
filhos enquanto muitas mulheres estão à espera de uma gravidez vidas
inteiras, não sei explicar porque é que isso acontece, acho que é uma
reflexão que nasce dentro de cada uma e quem está por fora não
compreende. Talvez você que abortou compreenda porque o fez e quem tenta
não consiga perceber. Talvez quem maltrate não tenha compreensão
possível mas eu acredito que a sua hora também chega, e a reflexão
também. Tudo tem de ter um motivo e uma consequência. A hora certa é
saber esperar ou saber aprender na espera.