A minha amiga ansiedade!

02-03-2017

Sofro de um transtorno de ansiedade, que neste momento está controlado. Numa fase inicial não estava de todo controlado e tive de ser acompanhada por uma psicologa que me orientou e me ensinou a lidar comigo. Acho que sempre fui ansiosa, não me lembro de viver sem o descontrole da ansiedade. Mesmo em criança, tenho memórias de momentos ansiosos que agora sei que não eram normais e que deveria ter falado sobre isso. Não falei. Como devem saber foi uma bola de neve ao longo dos anos e esperou só pelo momento mais sensivel para explodir. Nunca fui medicada, pois todo o meu acompanhamento e a minha recuperação, nunca necessitaram de ajuda de quimicos. Eu dizia que não conseguiria ultrapassar isto sozinha, e a médica dizia-me "E não estás sozinha". mais tarde percebi o enorme valor dessa afirmação. De facto não estava sozinha. Só precisei de olhar pro lado, ver os que me amam, conversar, confiar, desabafar, e as coisas foram desenrolando. Dias melhores que outros. Dias que nem de casa conseguia sair. Dias em que me senti confiante e fui a festas cheias de gente.
Foi uma caminhada que agora chegou ao ponto de estagnação. Sinto-me em perfeito controlo na maioria das vezes, havendo sempre aquela ocasião que faz tudo parecer que vai descambar, aquela discussão, aquele exame médico pendente, aquela viagem de avião, aquela gravidez... Pois é, a ansiedade na gravidez. Foi das minhas primeiras preocupações. Iria tudo isto piorar o meu estado, sendo uma fase tão sensivel nas nossas vidas? Irão estes medos fazer com que eu perca o controle da minha ansiedade? Conversei com a minha médica de família, expus os meus medos e perguntei pela possibilidade de tomar medicação. Mais uma vez pensei pra mim que não conseguiria fazer isto sozinha. A verdade é que mesmo com alguns picos de ansiedade, ainda não me senti minimamente tentada a tomar algum calmante. Tenho os picos maiores antes de exames, de consultas, de dias de trabalho mais complicados, e de pensar no parto. Esse é o que mais me preocupa. Sei que daqui até a recta final da gravidez, a bola de neve vai crescer. Mas também sei que sou capaz de ultrapassar isso, sou capaz de controlar esses picos, porque sempre o fui até hoje. Mas nunca estive grávida...não sei com vai ser nessa situação...medos destes que me paseiam pela cabeça, cada vez de forma mais frequente. Era de prever. Digamos que já estava a espera e então quando aparecem perdem o efeito de surpresa. Ao menos isso. Mas a ideia da dor agonizante, da possibilidade de complicações, de eu não aguentar, ou de todas as mil e uma hipóteses negativas... Mas porque terão de acontecer essas negativas? Porque não pode ser uma experiência tranquila, dentro da sua brutalidade natural? Talvez vá ser um dia tranquilo, a felicidade de ver o meu filho poderá sobrepor toda  e qualquer barbaridade que o meu cérebro se lembre de conspirar contra mim. Acalma-me sempre pensar nele, no momento em que o vou conhecer, te-lo nos meus braços será o maior prozac. Tento que esse seja o meu foco, a minha meta nesta maratona de 9 meses.
Ser mãe de primeira viagem com transtorno de ansiedade é dificil, mas não será tão diferente das outras mães, pois não? Talvez toda a mãe na sua estreia seja o espelho da ansiedade. Talvez. E todas me dizem sorrindo como foi a hora do parto. Não escondem o medo. é porque valeu a pena. Apenas o medo compensado é assumido. Então talvez também eu vá ser capaz de controlar toda a ansiedade e todos os medos. Sempre controlei. Mesmo nos maiores picos que achei que estava sem controle, no fundo controlei. A meu tempo, do meu jeito, mas controlei.

Sara, 2017
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